Todo mundo ganha


Os pais passam mais tempo com os filhos, as crianças aprendem a usar sua coordenação e seu raciocínio. Quando as peças são protagonistas, sempre tem diversão, não importa quem ganhe o jogo

Quem não tem boas recordações de atividades como jogo da memória, dominó, quebra-cabeça ou pega-varetas? Certamente, elas fizeram parte da sua infância e garantiram bons momentos na companhia de gente querida. Pois saiba que, além do prazer de estar junto, essas atividades ainda estimulam áreas do cérebro relacionadas ao aprendizado e à coordenação motora. Motivos mais que suficientes para juntar a família e se render à diversão. Os jogos de memória, por exemplo, desenvolvem a atenção e a chamada memória de curto prazo (que usa informações recentes para executar uma ação), além de estimular áreas responsáveis pela organização visual e espacial da criança. No caso do dominó e do quebra-cabeça, também são estimuladas funções ligadas à capacidade de planejamento e ao pensamento estratégico, necessários para se atingir objetivos. Já o pega-varetas ajuda a trabalhar as habilidades de coordenação motora fina. “O desenvolvimento dessas funções é importante para coisas que vão desde trocar de roupa até defender uma tese de doutorado”, explica Marco Antonio Arruda, neurologista da infância e da adolescência do Instituto Glia, de Ribeirão Preto (SP).

Olivia Caparica, de 2 anos e 2 meses, adora jogar com os pais e colegas. Quando fica em dúvida sobre o que escolher para fazer, sempre acaba nos seus passatempos preferidos: jogo da memória e de encaixar as peças. Na maioria das vezes tem a companhia da mãe, que incentiva a maneira “correta” de brincar. Ela já tem noção das regras, mas, como toda criança, cria seu próprio modo de usar e diverte quem está por perto. Conquista todos ao decidir quem começa: em vez de se escolher, ela canta como aprendeu com os pais “uni, duni, tê, salamê, minguê... o escolhido foi você. Mamãe!!!”.

Existem dois tipos de jogos. Os individuais, que são aqueles para montar, encaixar peças de diferentes formas, organizar sequências de cores ou tamanho. Eles estimulam a inteligência cognitiva, ao ensinar a criança a fazer associações para combinar pares; e a coordenação motora mais refinada, quando ela precisa respeitar padrões físicos para fazer o brinquedo dar certo, funcionar. Os jogos coletivos são praticados por pelo menos duas pessoas e também proporcionam o desenvolvimento da inteligência ética e a capacidade de se relacionar, quando faz a criança entender o que é permitido e o que não é, que há momentos em que se ganha e outros que se perde, e a estimula a procurar maneiras de conseguir chegar a seus objetivos.

Independentemente do que seu filho preferir é função dos pais (ou de um adulto) provocar esses estímulos, incentivar e observar sua evolução. “O adulto sabe provocar interações, o jogo se transforma em estímulo que forma o caráter e instiga a inteligência infantil”, explica Celso Antunes, mestre em pedagogia pela USP e autor do livro Jogos para a Estimulação das Múltiplas Inteligências (Ed. Vozes).

Assim que se joga
É fundamental mostrar para seu filho que as regras são importantes, pois estão presentes em toda a vida. Nos jogos, elas servem para orientar e organizar a ação dos participantes. Portanto, é necessário compartilhá-las antes do início da brincadeira. Até os 3 anos, as crianças não têm capacidade de seguir rigorosamente regras preestabelecidas, mas já são capazes de distinguir o certo do errado. “Para eles o ideal é simplificá-las e, na medida em que as regras são compreendidas e aceitas, ampliá-las”, explica Andrea Oliveira, pedagoga e orientadora Educacional da Escola Meu Castelinho (SP).

Depois de combinadas, as regras precisam ser seguidas para que a criança aprenda a respeitá-las e isso deve ser feito desde sempre. “Elas foram criadas para organizar os jogos, mas podem e devem ser revistas, adaptadas e até mesmo mudadas ou retiradas, mas sempre antes da atividade começar”, explica Geraldo Peçanha de Almeida, doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina e autor do livro Teoria e Prática em Psicomotricidade (Ed. Wax).

Às vezes, porém, pode ser interessante deixar a brincadeira mais solta para ver como seu filho imagina as coisas. Um estudo recente realizado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, com 85 crianças do ensino infantil, demonstrou que dar um brinquedo com diversas funções, acompanhado de todas as explicações, faz com que as crianças parem logo de brincar. “Dar respostas prontas diminui o interesse da criança, porque ela acha que já aprendeu tudo. O ideal é apontar como ela pode buscar essas informações”, afirma Raquel Caruso, psicopedagoga e diretora da clínica Edac – Equipe de Diagnóstico e Atendimento Clínico (SP). Que tal experimentar pedir que seu filho imagine como se joga, antes de ler as regras? Às vezes ele vai usar o brinquedo de outra forma, fazendo uma pilha com as peças de dominó, por exemplo. E está tudo bem assim, ele estará se divertindo e se desenvolvendo também.

Fonte:
www.revistacrescer.globo.com

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